hoje é dia de poesia /Da tumba ao útero/por Andreia Carvalho Gavita

*da tumba ao útero (fauna, flora & febre)
a terra me lembra
a pele de todos os bichos
com que me aqueci
fantasiando o calor
do músculo liso
pelos azulejos anestesiados
com olhos de vidro, com olhos de botão,
com olhos nos pratos
o lobo-guará, olfato dourado
seu canto tribal dentro das unhas
e gônadas
a coruja branca, enfeitiçada de premonições
sua previdência noturna pelo arvoredo
da respiração
o gato-mourisco na sola dos pés
roendo pedregulhos e mastros
malabaristas
na terra onde estamos
lacrados
todos alados féretros
as peles e os ossos
em simétrica convulsão
migratória
na fornalha dos primeiros dias
no assopro de vitrais pela catedral
transpirada
suaviza-me a marca destas expressões
de florestas & furnas & lagoas
os uivos que soam em sinos & gemidos
na fabulosa nostalgia
de um astucioso artesão
com vértebras
esta oficina diabólica é espelhada
um prisma químico
no metabolismo das dedaleiras
deixo-me moldar junto com todos
os bichos & ervas & germes
que me retornarão
quelícera de submundos
um célebre sem crias, sem carmas
sem conhecimento
um ciclope rosnando
pelo celibato de gaia
expulso & acolhido, viajante
*AC, no papel leopHardo - 2016.
**foto: 08/06/16 - manhã.

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