Hoje é dia de poesia / A morte do meu pai por canto dos cantos

“Penso na morte pela manhã. Penso nela como sempre pensei. Qual é o seu significado? Qual a razão de sua existência? Com qual atitude devemos vê-la, experiênciá-la, viver com ela, vivê-la?

 Com a morte do meu pai,  sinto que agora tudo é diferente entre eu e ela. Sinto que nos tornamos mais íntimos. Sinto que ela agora sabe mais sobre mim, pois possui parte de quem eu sou. Mas, ao mesmo tempo, sinto que eu a possuo um pouco mais também. Sinto que possuo algo de quem ela é. Sinto que entre nós algo irá acontecer; acontece, todos os dias, horas, minutos, segundos, instantes. Sinto que vivemos um processo que nos tornará um só.

Seremos como amantes que abandonam o seu eu pelo nós formado pelos dois eus. Um nós que é um, único e constante. Um nós que é tudo quanto amei ou odiei, conheci ou não conheci, provei ou não provei, vivi ou não vivi. Tudo estará ali. Tanto o aqui como o lá, o distante e o perto. Tudo será este nós formado por mim e a morte. E neste momento, serei apenas um fluir; serei, seremos, o fluir.


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